quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Hoje




Eu estava lá sentindo pena de mim mesma. Me peguei parada no ponto de ônibus em  pleno inverno curitibano. Não, não era um tubo, era um ponto aberto na Amintas de Barros. Eram seis da tarde, noite né, porque já estava escuro. 
Eu estava com febre, devido a uma infecção urinária. Eu faltei a aula de manha, e estava me sentindo uma porcaria.O dia no estagio foi meio bosta, descobri que estava escrevendo um arquivamento faziam três dias quando na verdade só precisava ter feito um contato, um pessoal que eu tinha que contatar não atendeu o telefone, uma velinha falou mal dos serviços prestados pela Promotoria de Justiça que eu trabalho.
Ninguém podia me dar uma caroninha pra casa, ninguém. Nem meu pai, nem minha mãe, nem meu namorado, amigas... Ninguém. Não que eu tenha perguntado, sabia que todo mundo estava ocupado. Estava lá no ponto, só pensando em merda. Com saudades de gente que não merece, me martirizando por coisas que eu nunca fiz, pensando mal de quem me quer bem. Pensando em todas as pessoas que eu queria ver, mas só converso por celular. Pensando em coisas que eu deveria ter feito.
Eu sabia que não havia nada de errado com tudo que estava acontecendo comigo, era um dia normal, que nem estava tão ruim assim na verdade. A auto-piedade é como uma camada de sebo que fica em volta da gente nos protegendo da realidade, e quando e falo realidade incluo a nós mesmos. Essa camadinha escrota de sebo é um ranço que fica ali poluindo nosso dia-dia, dando um ar enjoativo a todos os nossos momentos que não deveriam ser tão bosta. Quantos momentos legais eu já não perdi escapulindo da vida "protegida" por essa camadinha de sebo? Me sinto como um sabonete que toda vez que a vida aperta pula por entre seus dedos, furtivo. La dentro daquele cazulinho de auto-piedade está uma carol-lagarta, que sabe que aquele ranço foi gerada por mim mesma, de forma consciente e que ao mesmo tempo que eu quero me livrar dele, estou dentro da minha zona sebosa de conforto. Tipo uma placenta.
Será que um dia eu vou sair daqui? Deixar de ser um feto, virar uma borboleta? Como que faz pra limpar essa camada de auto-piedade aqui dentro e ao mesmo tempo fora de mim?
O ônibus chegou e eu fui para casa. Mas fiquei no aguardo.

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