quarta-feira, 17 de agosto de 2011

2- No ponto do onibus

Andei mais uma ou duas quadras, protegido de qualquer desventura pela mágica do dia 13. Parei no ponto de ônibus. Aquele lugar meio cálido, meio sujo e meio desconfortável. Menos quando chove o que acontece com certa freqüência. Daí o ponto de ônibus se torna confortável. Quando eu cheguei no ponto de ônibus, ninguém que estava lá olhou para mim. O que era legal, porque eu podia olhar elas sem medo de quem me notassem. Deviam ter umas quatro pessoas lá. Dei uma olhada por cima, porem, meu olhar se estagnou em uma pessoa só. Nela.

Era uma garota. Muito bonita, devia ter seus dezessete anos de idade. Ela chamava atenção, era como se ela iluminasse o canto do ponto em que ela estava escorada. Ela olhou pra mim, e ela tinha olhos lindos, coloridos, com jeito de gato. Mais eu não podia olhar para eles por muito tempo. Não queria que ela se assustasse comigo. Mudei a direção do olhar, disfarçadamente. Olhei para a esquina. Meu ônibus já estava chegando. Mais alguma outra pessoa chamou ele. Não notei quem, não queria virar meu pescoço para aquele lado, para não me prender novamente nela. Seria melhor assim, se eu nunca mais a visse na vida, para não me acostumar com esse tipo de beleza, que eu não ia conseguir encontrar em lugar nem um. Mais eu estou sendo exagerado não estou?

Entrei no ônibus meio empurrado, evitando para não empurrar quem viesse na minha frente. Enfiei as mãos no bolso, pegando as moedas que me restavam. “Faltam dois” disse a cobradora. Eu gelei. Não tinha dinheiro para o ônibus. Dois! Sempre dois! Se três é um numero da sorte, dois é um numero do azar. Já estava pronto para sair do ônibus quando uma mão pequena e delicada colocou duas moedas na mão da cobradora, segui o braço que passava por trás de mim e encontrei os olhos novamente. Passei, meio de costas, pela catraca, enquanto ela pagava a própria passagem. “Muito obrigado” eu disse. “Muito obrigado mesmo”. Ela sorriu. Agora não tinha mais jeito, eu estava apaixonado. “Não foi nada” Ela respondeu, com a voz meio baixa, quase rouca. Linda. “Não, sério, muito obrigada” eu repeti, por uma última vez.

Eu sentei, rápido, em um banco que estava vazio, ela sentou do outro lado do corredor, paralela a mim. Eu olhei para ela novamente. Estava usando uma boina portuguesa amarela. Os cabelos, castanhos escuro, Chanel. Uma jaquetinha preta. Por baixo, um vestido de crochê cinzento. Meia calça escura e os impecáveis sapatinhos de boneca. Ela parecia mesmo uma boneca. Com a pele tão branca, olhos brilhantes com os cílios negros e compridos. Eu não queria ficar encarando. Mais não conseguia. Simplesmente não conseguia. Não podia desviar os olhos dela. Sobre tudo dos olhos dela.

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