Hoje passei por uma situação extraordinária. Voltei fatigada para casa depois de passar uma dolorosa tarte no chuvoso centro de Curitiba. Sentei-me para estudar, decidida a só tirar os olhos da monótona apostila até terminar tudo que havia para fazer.
Foi então que eu vi jogado ao canto da minha escrivaninha um livro de bolso titulando "Los Miserables" nome que imediatamente prendeu minha atenção de tal forma que não pude evitar que um sentimento nostálgico se apoderasse de todo meu corpo e por fim minha alma.
Tal obra francesa não é nada mais nada menos que a obra favorita de meu falecido e saudoso Vovô Orilton, que apesar da origem humilde tinha um gosto muito grande por livros qual passou para minha mãe e esta passou para mim.
Com as mãos tremulas estendi a mão para pegar a obra que obviamente não era a original, e senti que fazia algo profano em ler não o grosso livro vermelho encapado com couro que meu vô outrora lera, mas essa misera versão de bolso, com capa mole e paginas vulgarmente grudadas ainda umas nas outras. " Ora, não perco nada lendo o prefácio, afinal estou aqui para estudar!" pensei abrindo o livro.
Antes soubera eu o que aconteceria comigo. Meus olhos arregalaram e minhas pupilas dilataram. Fundi-me ao livro como que por um elo inquebrável que se estendia deis de a palma das mãos onde sustentava o livro até a sola dos pés grudados intensamente no chão. Vivi por todas as emoções em um turbilhão de sentimentos que incorporava. Fui o bispo caridoso, fui a jovem ludibriada, fui o fugitivo mergulhado no remoço, fui o velho aproveitador, fui a menina abandonada, fui o inspetor invejoso, fui o insano menino de rua e fui o jovem apaixonado. Li o livro com tamanha voracidade que no mesmo dia em que abri o livro pela primeira vez, não soltei-o até ler a ultima letra da ultima pagina. Tinha lagrimas nos olhos e meu peito arfava. Foi por pouco que não senti as doces e calejadas mãos de meu avô acariciando-me os cabelos.
Com o tempo, tal chama fora se apagando, e eu voltava para minha patética realidade de vestibulanda solitária sem ter para quem reclamar sobre os espinhos da vida sem ter alguém para amar e ver que tais espinhos não passam do caule de uma bela rosa...
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