Ela olhou pra trás. Perguntou-me “Você não vai pegar seu casaco?” eu demorei um pouco para entender o que ela estava falando. “Ah, sim, o casaco...” Pensei mais um pouco. Eu podia deixar ele ali. Mas era uma das únicas coisas que eu possuía no mundo, e se fizesse falta eu não saberia como repor. Me libertei de seu abraço por alguns estantes, correi até meu casaco, e amarrei-o encharcado na minha cintura.
Seguimos andando pelas ruas molhadas, com a calçada escorregadia. Toda vez que ela pisava em falso, ou parecia que ia tropeçar, eu a segurava firme, com cuidado para não apertá-la mais não por isso, menos desesperadamente.
Cada passo que eu dava era uma alegria. Cada passo que eu dava, era um passo a mais na minha vida, ao mesmo tempo, que era um passo a menos em sua presença. O que antes era um passo em potencial tornava-se passado, um passado que não voltaria em uma vida finita, em que eu não poderia simplesmente andar para sempre abraçado com ela.
Sentia que o fim estava próximo... Que faria eu quando chegasse? Isso é, se eu deixasse que chegasse. Como já disse, estava decidido a não deixar ela escapar novamente. Pois eu me sentia o homem mais feliz do mundo perto dela. Eu me sentia verdadeiramente um homem.
Os postes de ferro (tão charmosos) se acenderam. Já deviam ser sete horas. Ela parou na frente de uma casa. “a casa da minha avó já é aqui!” Era agora. Se eu não tomasse a iniciativa ninguém mais o faria. Estava ciente de meus deveres. Puxei-a para mim, e com toda a delicadeza depositei um beijo em seus lábios vermelhos.
Eu podia escrever paginas e paginas sobre aquele beijo que ela cedeu sem resistência. Aquele beijo que podia ter durado para sempre e ainda mais. Podia escrever paginas sobre os dedos delicados que se prenderam no meu cabelo, podia escrever um livro inteiro só sobre as gotas que passavam do meu rosto para o dela.
Mas prefiro passar direto para quando o beijo cessou o que foi uma infelicidade, mas as palavras que derem espaço para ele geraram uma enorme felicidade. “acho melhor agente ir para o seu apartamento agora...”
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