terça-feira, 27 de setembro de 2011

6- Momentos no onibus

Eu devia ter vergonha de fita-la nos olhos, assim tão descaradamente. Mas ela não parecia se incomodar. Ela voltou para o lugar dela, na janela. Ia olhando despercebida a rua lá fora, quando em um sobressalto ela exclamou “Passei do meu ponto!”. Coitadinha, parecia meio abalada, um tanto confusa. Eu abri a boca para falar. Fechei de novo. Mais então abri novamente. Agente nunca mais se veria, muito provavelmente “Que tal parar no próximo ponto?” Falei o mais educadamente possível. Não queria que ela pensasse que eu a achava burra ou algo do gênero. Ela olhou para baixo, constrangida. “Pois é... É o mais lógico, não?” Ela bateu um calcanhar no outro, fazendo estalar os saltos dos sapatos boneca. “ Pena que eu nunca desci no próximo ponto, quer dizer...” Ela me apontou a janela “olha como é lá fora!” Era uma rua escura, meio suja, mais foi só isso que eu vi nela. “eu não consigo andar lá. Eu espero o ônibus dar mais uma volta, e parar no ponto anterior, quando isso acontece” ela corou e falou baixinho, talvez achando que eu não estava escutando “o que ocorre com certa freqüência”. Eu não gostava de ver ela daquele jeito. Sim, ela ficava linda constrangida, meiga. Era algo bonitinho de se ver. Mais me partia o coração. Ela parecia meio desamparada, e eu tinha uma vontade louca de fazer ela se sentir melhor. Mais o que eu podia fazer?

Pensei seriamente em oferecer meu braço, para descer nesse ponto com ela. Mais ela não ia aceitar a ajuda de um estranho maltrapilho e bizarro que do nada, decidiu socializar com ela. Mais uma coisa eu podia fazer. Podia ficar no ônibus com ela. Talvez não fosse a melhor companhia. Mais não deixava de ser uma. Sem contar, que eu podia ficar olhando para ela, escutando a sua voz. Deixei-me envolver novamente pela mágica que ela exercia. Ela era perfeita. Simples assim.

Para ser sincero, eu fui meio egoísta. Fiquei um tanto feliz por ela ter perdido o ponto. Não queria me separar dela. Não ainda. Não agora.

O silêncio era bom. Permanecemos muito tempo assim. Mas assim como ontem, eu queria falar com ela. Era tão interessante. Tudo era interessante. Deis de o que ela falava até como ela falava. Como os lábios se mexiam, quando e como ela piscava. Meu Deus do céu, tão apaixonado... Tão apaixonado.

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