Foi até a sala do promotor no mesmo andar, bateu na porta com o nó dos dedos. "Pode entrar" uma voz masculina respondeu por de trás da porta.
Ela entrou. A sala era ampla. Tudo que era do ministério público era simples, o piso, a luminária, a mobília... Típica mobília compradas por licitação. Destoando disso, havia a coleção completa de Cezar Roberto Bittencourt e de Eugênio Raúl Zaffarini em capa de couro azul e vermelha, respectivamente, em uma prateleira, sustentados por um par de apoiador-de-livros com a imagem da deusa Diké em bronze. Vários diplomas e certificados de classificação em concursos públicos estavam pendurados na parede com belas molduras. Sobre a mesa uma foto do promotor mais jovem, trocando um aperto de mão com o Procurador-geral da República. Havia uma máquina de café da Nespresso em uma mesa só para ela, com uma vasta variedade de cápsulas coloridas metalizadas dispostas uma ao lado da outra como uma escultura de arte contemporânea em louvor a cafeína, a produtos patenteados e a empáfia.
O promotor estava tomando seu café expresso em uma pequena xícara de café prateada.
"Boa tarde" ele disse sobre a xícara. Ela acenou com a cabeça, esperando para ver o que ele tinha a dizer. Ele tomou mais um gole e deixou a xícara repousando sobre a mesa. "Como vão os arquivamentos?" ele perguntou, juntando as mãos sobre a mesa. "Estão bem. Até agora todos estão prescritos". "Certo" Ele disse "E quantos relatórios você já fez?" ele perguntou. Ela ficou quieta por um momento " Até agora nenhum" respondeu com as sobrancelhas franzidas. O promotor bufou, suspirando irritado "Você está trabalhando nisso há, o que? Três dias?". Ela levantou as sobrancelhas incrédula "Eu estou preenchendo uma planilha com os dados dos inquéritos antes de gerar os relatórios de arquivamento". "Quem te disse pra fazer isso?" ele perguntou. "Eu vi que era mais simples fazer uma planilha pra então preencher os dados em um modelo do word por mala direta"ela respondeu. Ele piscou como se não estivesse entendendo. "Assim eu posso fazer todos eles ao mesmo tempo" ela concluiu. "Tá certo. Mas entenda que para nós é mais interessante que você gere um relatório por dia ao invés de vários de uma só vez. De hoje em diante eu quero pelo menos um inquérito por dia em cima da minha mesa com o arquivamento pronto para nós mandarmos para o Conselho Superior no final do mês." ela assentiu e sentindo-se obrigada a fazer essa pergunta, incomodada, já tendo uma resposta em mente, questionou "Mas se houverem casos em que existam diligências? Casos com provas novas?". "Nesse caso, jogamos o inquérito fora" ele disse cruzando as pernas e pegando novamente a xícara de café. Aquela conversa estava encerrada.
Ela saiu e fechou a porta atrás de si. Ela entendeu o que isso significava. Se ela deixasse o inquérito no arquivo, eventualmente ele seria jogado fora. Ela entendia que a quantidade de inquéritos circulando dentro da promotoria era enorme e a ultima coisa que o promotor gostaria era de mais trabalho acumulado em sua mesa. O tempo de ter um ofício da prefeitura respondido era de no mínimo quinze dias e era comum que remessas feitas à policia civil voltassem um ano depois de serem remetidas com a simples frase "Não havendo tempo hábil para cumprir as diligencias, remeta-se ao ministério público para que se tomem as devidas providências" sendo que as devidas providencias eram exatamente iguais as remetidas a exatos um ano atrás.
Ela foi até seu computador, na sala onde Cadu trabalhava.
"Você por aqui?" Ele disse tirando um dos fones de ouvido que estavam conectados em seu computador "Você limpou o arquivo bem mais rápido do que eu esperava" ele disse rindo.
Ela passou a mão no rosto, cansada. "Vou precisar escrever um relatório por dia agora". "Mas seria tão mais fácil fazer por mala direta" ele disse. "Eu sei" ela disse iniciando o computador.
Enquanto ela trabalhava em um modelo para fazer seus arquivamentos ela pensou no caso Sirenka. Trinta anos, duas mortes e nenhuma resposta. Estava condenado a ir para uma pilha de lixo e ser jogado para sempre no esquecimento. Talvez se tornar papel reciclado, ou talvez ser queimado e contribuir um pouco mais para o aquecimento global. Ela pensou nos depoimentos das filhas de Jögg, esquecidos em um periódico online de baixa qualidade ao lado de manchetes como "Esposa mata marido e usa o corpo para fazer salgadinhos em Colombo" e "Polícia prende morador de rua por roubar engradado de cerveja".
Naquele momento ela tomou uma decisão que poderia fazer com que respondesse a um processo judicial. Prevaricação, talvez. Existe o tipo penal "alienação de documento público"? ela acreditava que não. De qualquer forma, ela entendia que estava excedendo sua liberdade de funcionária pública. Naquele dia, no fim do expediente ela levou o inquérito em sua mochila para casa.
Ela chegou em casa e, depois de cuidar de Fritz Haber e Vanderlei, sentou em seu velho sofá com as pernas cruzadas, com o inquérito no colo. Abriu o laudo de necrópsia que foi juntado aos autos meses depois do aparecimento do corpo.
"Vestes danificadas por fogo, tecido sintético. Brinco de Alexandrita no lóbulo direito. Cabelos quase completamente carbonizados de cor castanho-avermelhado. Estado de Rigor Mortis. Caucasiano. Órbitas oculares vazias, secreção presente característica do rompimento dos tecidos oculares com liberação do humor vítreo. Arcada dentária íntegra, presença de implantes dentários de ouro. A derme do rosto, pescoço, tórax e abdome apresenta lesões profundas, irregulares e difusas bem como se encontra em estado inicial de carbonização. O baixo ventre apresenta uma incisão de 12cm, com perfuração dos tecidos da derme, liposa, faciamuscular, mscular, peritonio pariental, peritonio visceral e musculatura uterina. Região cranial para a caudal posterior não apresenta lesões, a pele possui aspecto brilhante e livor-mortis. Membros superiores contraídos e rígidos na frente do peito, mãos sem unhas, em estado de carbonização. Membros inferiores, íntegros apresentando manchas rochas na lateral esquerda. Área genital profundamente lesionada pelo fogo, sem secreções. Cavidades craniana íntegra, massa encefálica de tamanho e aspecto normal. Caixa torácica não apresenta lesões internas. Coração com tamanho, cor e aspecto normais. Pulmão dilatado, de cor acinzentada. Lesões em vias aéreas. Presença de fuligem nos brônquios. Aparelho digestivo íntegro, sem vestígios ou resíduos alimentares. Realizada coleta de amostras de sangue e urina para envio ao laboratório."
Essa era a primeira pagina do laudo de necrópsia. Ela entendeu que era um relato puramente descritivo e detalhado de todos os procedimentos realizados de praxe em qualquer caso de suspeita por morte violenta. Então as coisas começaram a ficar hard-core, pois na pagina seguinte havia uma coletânea de ilustrações e fotos. A primeira ilustração parecia uma tentativa falha de uma criança em colorir a foto de uma mulher com uma caneta vermelha. Era a indicação das lesões encontradas no corpo, que cobriam completamente sua pele do rosto até os joelhos, com um risco preto no ventre, indicando a incisão encontrada. E então as fotos em detalhes, os bens da vítima dispostos lado-a-lado. O brinco e os farrapos que um dia foram suas roupas. O rosto queimado do corpo, com as cavidades oculares vazias. A arcada dentária com os molares de ouro. O corpo nú, completamente desfigurado e queimado. Fotos do ventre aberto, com uma régua para medir a incisão. A incisão era quase imperceptível por foto, precisando de olhos treinados de legista para ver que havia um corte em meio a toda aquela carne queimada. O crânio aberto, com um cérebro brilhante. O cérebro em uma bandeja metálica. O cérebro aberto ao meio na mesma bandeja metálica A cavidade toráxica aberta, com os órgãos todos encaixados. O coração em uma bandeja, o coração aberto em uma bandeja. O pulmão em uma bandeja, o pulmão aberto. O estômago, fígado intestino... Ela já estava ficando entediada quando abriu a foto das genitais da vitima absolutamente desfiguradas. Era um buraco de carvão.
Ela teve um arrepio e sentiu enjoo e uma sensação de frio na própria genital. O fato das fotos serem todas em preto e branco contribuía para a experiência ser ainda mais sombria. Ela fechou os olhos e respirou. Manteve a calma, voltou a ler.
Foi então que ela chegou na parte mais interessante. Eram as conclusões dos médicos legistas.
Em resumo, eles concluíram que os olhos da vítima derreteram devido ao contato com calor extremo, que aquelas queimaduras eram provenientes da queima de um liquido inflamável, mais provavelmente gasolina, enviando amostras para laboratório para análise química qualitativa. As manchas na lateral do corpo e o livor-mortis nas costas indicava que a vítima morreu em posição fetal, com o lado esquerdo do corpo pra baixo, sendo retirado de sua posição original e disposto deitado posteriormente, poucos momentos depois de morrer. Pelo estado de rigor-mortis era possível definir que a vitima havia morrido a menos de 42h do envio para necrópsia. A dos braços flexionados em frente ao corpo é típica de vítimas por morte dolorosa e por vítimas de incêndios. A incisão abdominal foi feita enquanto a vítima estava viva, devido a presença de sangue coagulado no interior do útero. As genitais e o abdome foram as partes mais afetadas pelo fogo, com fortes indícios de utilização da gasolina justamente para mascarar a realização de procedimento cirúrgico, tendo em vista a precisão do corte encontrado no ventre. A presença de fuligem no pulmão e lesões nas vias aéreas indicam que a vítima estava viva quando queimada.
A cabeça dela estava girando. Era um crime bárbaro e sem motivo. Ela passou os dedos sobre a assinatura em caneta dos médicos legistas: Jörg Baumbach e Carlos Daniel Amorim.
Ela fechou o inquérito. Ainda sentindo um pouco de náusea sentiu que estava mais intrigada com isso do que com qualquer outra coisa que já tivesse lido em sua vida. Aquele caso era pura brutalidade e mistério. O que Jörg descobriu? Por que Jörg foi morto?
Ela levantou do sofá com um pulo, acordando Vanderlei e buscou seu laptop. Ela iria levar aquilo para frente. Buscou o nome do então delegado em um buscador, Eduardo da Silva Fonseca. Encontrou seu nome em um obituário digital, falecido em 2008 com 75 anos. Pesquisou o nome do promotor de justiça, João Carlos Piccianne. Não encontrou nada de relevante. Então por Maximiliano Cristovão Saldanha Júnior, que era procurador de justiça, mas só encontrou alguns poucos resultados sobre Jaime Saldanha Jr. de um certo clube de tiro Águia de Haia que claramente não possuía relação nenhuma com o caso. Massageou as têmporas, começando a pensar que aquilo era uma perda de tempo. Procurou pelo nome do segundo medico legista que assinou a necrópsia, Carlos Daniel Amorim. Só apareceram perfis em redes sociais de pessoas com a metade da idade dele. Então ela teve um estalo. Pesquisou por Vô Carlos Daniel Amorim. Encontrou uma foto de uma adolescente abraçada com um senhorzinho careca de bigodes brancos. Entrou na pagina. Era uma foto do facebook, do perfil de uma adolescente de 15 anos, estudante do colégio Santa-Maria de Curitiba, com a seguinte legenda "Feliz aniversário Vovô Carlos, muitos anos de vida para o melhor médico da cidade." havia uma série de comentários na foto que traziam o nome do senhor Carlos Daniel Amorim, referindo-se a ele como Dr. Amorim, como Vô Carlos, Tio Carlos e por ai vai. Ao que tudo indicava ele estava vivo, mas não possuía uma conta em qualquer rede social.
Como fazer contato com um senhor do século passado sem redes sociais? Era muito simples. Ela precisava de uma lista telefônica. Ela sabia exatamente onde ir. Eram quase sete horas, se ela corresse daria tempo de ir. "Vanderlei, vem comigo!"ela disse para seu enorme galgo castanho. Abriu a porta para o cão e apressou o passo até a a Livraria Fenix, algumas quadras de casa na Trajano Reis, que na verdade é um sebo. Vanderlei foi seguindo em seu calcanhar, obediente. Quando chegou na pequena construção cor de Goiaba, coberta de pichações encontrou o funcionário com as chaves na mão, para fechar o sebo. "Irineiu!!" ela gritou correndo em sua direção "Irineu, não fecha ainda! Eu preciso de uma coisa urgente". O senhor de cinquenta anos pareceu surpreso e subiu os óculos com o dedo indicador. "O que pode ser tão urgente que não pode esperar até a amanhã?"ele perguntou. "Eu pago em dobro! Acredite em mim, eu preciso disso agora" ela disse "por favor". Irineu suspirou e abriu a porta para ela entrar. "Vanderlei, fica!" ela ordenou para o cachorro, que ficou esperando do lado de fora.
Ela foi até os fundos da loja e subiu em uma escada, onde ficavam pilhas empoeiradas de listas telefônicas antigas. Ela pegou quatro listas diferentes, uma de 1989 (a mais antiga que estava ali), uma de 1994, e por fim uma de 2007 (a mais recente que encontrou).
Ela foi até o balcão, carregando as três enormes listas. "Acho que essa é a segunda venda mais estranha que eu já fiz nesse sebo. A primeira mais estranha foi quando você comprou aquela cópia de 'A Filosofia da Viagem no Tempo' de Roberta Sparrow que eu nem sabia que fazia parte do acervo". Ele disse que ela não precisaria pagar em dobro. Sendo assim, ela pagou o preço normal e foi embora com Vanderlei.
Quando voltou para casa, colocou as três enormes listas no chão. Buscou pelo nome de Carlos Daniel Amorim, primeiro na lista de 1989. As folhas estavam caindo e se desmanchando. Em 1989 só havia um Carlos Daniel Amorim morando em Curitiba. Em 1994 já haviam cinco, entretanto um deles possuía exatamente o mesmo número de telefone que o Carlos Daniel Amorim de 1989, ela assumiu que ele continuou morando no mesmo lugar. O mesmo numero se repetia na lista de 2007, com o 3 extra na frente acrescentado pela Brasil Telecom como oitavo dígito em 2005. "Bingo" ela disse satisfeita com si mesma. Ela acessou a EKW Brasil e acrescentou o telefone. Ele morava em uma casa no Bom Retiro. Ela colocou o endereço no google maps. Era uma bela casa de madeira estilo colonial, com lambrequins, pintada em duas cores diferentes.
Não era longe de onde ela morava. Ela colocou o inquérito na mochila e decidiu dar uma volta.
Parou no ponto de ônibus, pegou a linha Cabral/Ozório. Andou calmamente até uma bela casa de madeira estilo colonial com belos lambrequins.
Bateu a campainha. Demorou para que fosse atendida. Escutou alguém andando por de trás da porta. Ela mostrou o inquérito azul claro para o olho mágico. Escutou um barulho de chaves e a porta se abriu.
Um senhor descabelado abriu a porta. Ele estava de roupão, aparentemente ela havia o tirado da cama. Ele possuía olhos verdes cansados, um bigode cheio e branco e seus poucos cabelos estavam bagunçados em sua testa calva, franzida de apreensão. Em sua mão direita, um revolver PT-99 em calibre 9 mm preto, jazia esquecido, apontado para o chão.
Naquele momento ela soube que havia encontrado a pessoa certa.
"Pensei que eu ia morrer antes de ver isso aparecer na minha frente novamente."
"Boa tarde, senhor Carlos, meu nome é..."
"Shhhhhhh" ele a silenciou "Eu não quero saber. Entre aqui logo"
Ela entrou. Era uma sala aconchegante, com um relógio cuco alemão na parede com seu ruidoso tic-tac. Um conjunto de poltronas floridas, uma enorme tv de tubo dentro de um móvel embutido todo de madeira, tudo isso sobre um grande tapete de lã com padrões geométricos.
"Onde você encontrou isso?" Ele perguntou.
"Estava em cima de um armário em um antigo arquivo de um prédio do ministério público."
"Meu Deus" o senhor exclamou, passando a mão na testa suada. Ela foi direto ao assunto "O que aconteceu com Jörg?". O senhor a olhou nos olhos pela primeira vez, desviando o olhar do antigo inquérito.
"A policia concluiu que Jörg cometeu suicídio". "Não. O que realmente aconteceu?" ela insistiu.
O senhorzinho soltou um suspiro triste "Espere um segundo. Eu preciso de um drink"ele disse se levantando e se servindo de uma dose de whisky de uma garrafa de cristal disposta em uma mesa de canto. Ele sentou no sofá e bebeu um gole da bebida.
"Eu mesmo fiz a necrópsia de Jörg. Não haviam muitos médicos legistas em Curitiba nessa época. Eu nunca quis ser da polícia, mas meu pai me convenceu a entrar na carreira publica, era o primeiro ano de que foi instituída a polícia civil. Eu e Jörg fomos uns dos primeiros legistas de Curitiba. Saí assim que juntei dinheiro o suficiente para montar meu consultório. Jörg não, ele adorava o que fazia. Ele era filho de alemães e se formou em medicina na Heinrich Heine de Düsseldorf. Nunca conheci um médico que gostasse mais de pacientes mortos do que dos vivos até conhecer Jörg. Ele me ensinou uma coisa ou outra. O pobre homem foi encontrado morto em casa com um tiro na cabeça. Acontece que eu fiz o exame de balística nele. Ele levou um tiro na nuca, de cima para baixo e não foi a queima-roupa. Seu cabelo não estava chamuscado. Na época eu cheguei a acreditar que pudesse ser suicídio, mas anos como medico forense me mostraram que não. Jörg foi executado. Hoje eu tenho certeza disso".
"Por quem?"ela perguntou.
"Eu não sei." ele disse "ninguém sabe, ninguém faz a menor ideia, mas eu te digo uma coisa: eram pessoas poderosas. E te digo outra coisa, o motivo está em suas mãos"
Ela estendeu o inquérito. O senhor pegou o papel com um pouco de receio, como se fosse explodir em suas mãos e continuou a falar "Jörg estava obcecado. Ele não deixava que o corpo fosse enterrado ou cremado, ele sempre encontrava novos exames, novas marcas. O cretino fez vários laudos diferentes durante o ano que estava atuando nesse caso. Sempre pedia por mais perícias. Ele examinou tudo que pode, as próteses dentárias, as queimaduras, o o corte no útero, até mesmo a tintura de cabelo da vítima. No inicio o delegado aceitava seus pedidos para realizar mais exames até que de uma semana pra outra ele e o promotor decidiram por unanimidade arquivar o inquérito. Jörg ficou indignado. Acredito que ele soubesse de alguma coisa, então ele sumiu com os autos. Algum tempo depois ele foi encontrado morto. Na época eu não achava que uma coisa tivesse relação com a outra. E mesmo se tivesse, eu não me envolveria. Tinha uma família para sustentar"
"Por que Jörg insistiu tanto no inquérito de uma mulher que nunca foi reconhecida? Nenhum parente nunca procurou por ela, ninguém nunca prestou queixa por seu desaparecimento em todo território nacional"
"Jörg não estava preocupado com a mulher. Ele estava preocupado com o bebê"
Ela sentiu todo o peso do seu corpo ir para os pés "Caralho" deixou escapar "bebê?"
"Sim, o bebê. Veja bem, eu sou médico obstetra. Sempre adorei trazer pessoas a vida, mesmo quando fazia residência. O corpo podia estar bastante queimado, mas eu reconheço uma cesariana quando vejo uma. Jörg reconheceu também. A medida do quadril e a disposição dos órgãos deixou bem claro que ela completou a gestação e aquela cesariana com certeza foi feita por um médico"
"Se isso ocorreu em 85..."ela pensou alto
"O bebe teria 32 anos hoje em dia" concluiu Carlos.